quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Antimoda?

Joana Resende em momento "in love" com o presente [paçoca] que eu e Lauro Justino demos a ela. 



Primeiramente, esse é um post sobre uma professora tirando dúvidas de uma aluna. 
Essa entrevista, foi feita com a estilista e professora do curso de Design de Moda na UNIC, Joana de Resende Assunção, a fim de esclarecer algumas dúvidas e também complementar a matéria "Antimoda" que está na edição 3 da revista TAG#02 [quem quiser conhecer a revista, está aqui o perfil do facebook da TAG]. No momento Joana não está lecionando, pois se encontra em Shanghai, fazendo um mestrado sobre o mercado de luxo, então aguardamos ansiosos por sua volta [no plural porque não se trata apenas de mim, mas de grande parte dos alunos do curso de Design de Moda].
Então lá vai:


Sid Vicious e Nancy Spungen


Qual o conceito de antimoda?


A moda, em estatística, é o elemento mais freqüente de uma amostra. A moda do vestuário é um tipo de fenômeno caracterizado pela produção acelerada e constante da obsolência programada, numa permanente corrida para adiante, criando então as manifestações que conhecemos como tendências.
O conceito de antimoda reside, em suma, no movimento de força no sentido oposto e complementar que toda tendência de moda gera: a contratendência. Tornando absoluta a distância em relação a tudo o que é conforme a regra estética e moral, o lamento central da antimoda consiste na referência a ideais, valores e concepções da existência radicalmente opostos aos padrões vigentes. É um fenômeno que assume formas e temas de diversas fontes culturais, como a indignação contra o utilitarismo, naturalismo salutar, protestos feministas, ceticismo conservador, e a afronta da contracultura.
É importante também lembrar a existência de um outro tipo de antimoda, mais perene e também alheia aos sistema da moda, a dos trajes folclóricos e uniformes. Este tipo de indumentária é representativa dela mesma e tem seu ciclo de uso estabelecido culturalmente ou compulsoriamente, desprezando, na maioria das vezes, a estética vigente.


A antimoda é dita "fora dos padrões vigentes", como foram os punks, hippies, góticos na época em que surgiram. Essa antimoda, acabou por influenciar as passarelas e virar moda. Eu queria saber o que poderia ser considerado antimoda hoje? Existe algum grupo?


Assumindo esse entendimento que antimoda é uma reação contrária aos padrões vigentes então teríamos, hoje, uma infinidade de manifestações dessa corrente do ser/vestir. A idéia da individualização é hoje um comportamento natural e que implica na construção de um indivíduo atípico, que não seja parte da massa da moda, ou seja, contrário ao padrão vigente. No entanto, realmente a quantidade de adeptos é tamanha que a houve uma inversão de valores, tornando então a própria antimoda em mainstream. Para citar alguns estilos,
teriam o homeless, as meninas de Shibuya, os belgas surrealistas... mas não acredito no poder revolucionário de nenhuma manifestação atual, vejo apenas apelo estético.


Dominic Jones - lookbook/ inverno-2009


Sobre a relação de antimoda e moda de rua: a antimoda pode ser considerada como moda de rua?


Não acredito que sejam sinônimas, no entanto, acredito que as ruas são sim um dos pontos mais ricos de efervescência de idéias e, por isso, é também o local onde esse tipo de atitude floresce com maior freqüência, além de servirem como uma democrática passarela. Uma passagem ilustrativa seria um dos primeiros episódios modernos de antimoda, em Londres, quando as Chelsea Girls de saias curtas obrigam Mary Quant a confessar, com toda elegância, “a idéia da minissaia não é minha nem de Courrèges, foi a rua quem inventou”. Em contrapartida, existem antimodas, como a japonista e a belga, que tiveram seu surgimento fora das ruas e apenas quando já engolidas pelo sistema da moda é que se tornaram alvos fáceis do street style, o que então impede o uso do termo como um sinônimo.


O que você pensa sobre como a moda de rua tem sido retratada pelos grandes fotógrafos e blogueiros de street style? [Como quando, eles se concentram e até se restringem a registrar pessoas com muita informação de moda, em lugares "badalados", populares por essas pessoas].


Existem muitos grandes fotógrafos que hoje atuam nesta área e também ângulos muito diferentes de se olhar esse mesmo objeto, mas acredito que fotógrafos como Tommy Ton e Scott Schuman atuem em uma vertente de “fotojornalismo” riquíssima, desempenhando um papel que vai muito além de comunicar referências de moda, como por exemplo, compondo um registro histórico fantástico. Muito mais que um catálogo de tendências de comprimento de saias ou altura de saltos, essa cobertura proporciona um documentário social diário que celebra a auto-expressão.


* Referências:
CALANCA, Daniela. História social da moda. São Paulo: Senac, 2008.
CALDAS, Dario. Observatório de Sinais. Rio de Janeiro: Senac, 2006.
BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac Naify. 2008.


Espero que as informações ajudem quem tem dúvidas, assim como eu tive [e sempre tenho]!

Um comentário:

Danny Amorim disse...

Adorei a matéria "antimoda"!!! Sddes da Joana!!! Bom... Pude ao menos saciar em partes a falta que sinto das aulas e do qto ela sabe... Bjos e obrigada Bianca!!!