quarta-feira, 28 de julho de 2010

Moda e Comunicação

Bom, já que faz tempinho que não posto textos aqui no blog, decidi postar o conteúdo de um trabalho que fiz pra faculdade. Lembrando ainda que é trabalho de 2° semestre então não é lá aquelas coisas. (rs)

 Moda

      
A moda antes de tudo é uma linguagem, que a partir de um contexto histórico sócio-cultural, terá seu significado.
             A moda é vista como uso, hábito ou estilo geralmente aceito, variável no tempo e resultante de determinado gosto, idéia ou capricho, ou das influências do meio; bem como fenômeno social ou cultural, mais ou menos coercitivo, que consiste na mudança periódica de estilo, e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter, por algum tempo, determinada posição social (CIDREIRA, 2005, p. 30).
É geralmente relacionada ao vestuário. É um sistema que vive em constante mudança, mas não é só o vestuário que o sistema de moda abrange, ela também atinge segmentos como: mobiliário, decoração, arquitetura, bens de consumo como carros e celulares, bem como, linguagens, maneiras, idéias, artistas.
A moda é um reflexo mutável do que somos e dos tempos em que vivemos. As roupas revelam nossas prioridades, nossas aspirações, nosso liberalismo ou conservadorismo (O’hara,1992, p. 10).
É uma transmissão de linguagem, uma forma de expressão individual, social, histórica, cultura. Também pode ser forma de arte, que agrega conceitos e valores. O assunto moda também está ligado à tendência de consumismo.

Comunicação

Comunicação é um processo troca de informações entre dois organismos.  É fundamental na constituição da sociedade, porque é através dela que os homens transmitem toda a herança cultural de uns para os outros, durante gerações. Falar da comunicação abrange um campo muito vasto. O ato de comunicar está presente o tempo inteiro em nossas vidas, desde a comunicação que existe entre as partes do nosso organismo, à nossa vida social e a comunicação através de telejornais, revistas, internet etc.
Para os seres humanos, o processo não é só fundamental como vital.  É fundamental, na medida em que toda sociedade humana – da primitiva à moderna – baseia-se na capacidade do homem de transmitir suas intenções, desejos, sentimentos, conhecimento e experiência, de pessoas para pessoas. É vital na medida em que a habilidade de comunicar-se aumenta as chances de sobrevivência do indivíduo, enquanto sua falta é geralmente considerada uma séria forma de patologia (WHRIGHT, 1968, p.13).

A comunicação não só é um processo verbal oral ou de escrita, mas como também é um processo não-verbal, onde a troca de informações é feita através de imagens, sinais, gestos, postura corporal e ainda, através do modo como nos vestimos.

A MODA É COMUNICAÇÃO

Um pouco de história

Como todo campo de estudo, a moda também teve seu surgimento em algum lugar da história. Segundo Lipovetsky (1989), a moda não pertence a todas as épocas nem a todas civilizações.
 Por que o homem se veste? A esta pergunta tão essencial foram muitas as tentativas de respostas, mas estas sempre tiveram repertoriadas em torno de três aspectos fundamentais: pudor, proteção e ornamentação. Pudor para esconder sua nudez, a proteção contra as intempéries e o adorno para se fazer notar. (CIDREIRA, 2005, p. 39) 
 Desde os primórdios, o homem sentiu a necessidade de se cobrir com algo que lhe protegesse do frio e de elementos externos da natureza. Foi ai que surgiram as primeiras vestimentas, a partir dessas necessidades do homem. Mas essa vestimenta não pode ser denominada moda, pois passou a fazer parte da cultura do homem.
Então é preciso voltar ao tempo para saber a partir de que momento a indumentária – vestuário característico de uma época, região - deixa de ser apenas uma “proteção”, uma simples vestimenta sobre o corpo do homem e começa a ter um caráter de significação para a sociedade.
Só a partir do final da Idade Média é possível reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, a fantasia exibe seus artifícios e seus exageros na alta sociedade, a inconstância em matéria de formas e ornamentações já não é exceção mas regra permanente: a moda nasceu. (LIPOVETSKY, 1989. p. 23)

Numa passagem rápida pela história da moda, ainda na Idade Média, a moda tinha a função de diferenciação das classes sociais – os tecidos e as cores, por exemplo, iam de acordo com a classe social que o indivíduo pertencesse, podendo ser membro do clero, nobreza ou proletariado.
Mais pra frente, no período de 1929 – 1945, mais especificamente na época da 2º Guerra Mundial, houve uma drástica mudança na maneira do vestir e nos materiais que eram usados na confecção de roupas. As mulheres foram para a indústria e devido à crise provocada pela guerra, os materiais eram escassos. Nesse período de recessão, a moda feminina, tem ar de seriedade por influência dos uniformes dos soldados.  
 Por questões de conforto, o hábito de vestir calças compridas se generalizou, e a saia-calça era muito usada pelas ciclistas; desenvolveu-se uma tendência para o uso do azul, vermelho e branco, cores da bandeira da França. (MOUTINHO, 2000, p.123)
E por fim, mais recentemente, os movimentos antimoda – a moda de rua – que surgiu através de grupos/ movimentos sociais que não estavam preocupados em seguir as tendências que a moda oficial - a que estava nas passarelas, nas vitrines - ditava. São as tribos urbanas como, por exemplo, os punks que surgiram no fim da década de 70, que tinham suas ideologias, comportamentos, linguagem, símbolos característicos e que depois acabará por inspirar mesmo as criações de estilistas, como Vivienne Westwood.  

Moda e formação de Identidade

Para Solomon (2002) identidade pode ser entendida como a relação entre múltiplos eus, sendo o “eu ideal” a concepção da pessoa sobre como ela gostaria de ser, e o “eu real” a avaliação realista das qualidades possuídas ou não. (SOLOMON apud GAIA; FALEIROS; SOUSA)
Dentro de nossa vida em sociedade temos vários papéis sociais, que Paulo da Rocha Dias define por: “comportamento que é esperado das pessoas a partir do lugar que elas ocupam em determinados grupos ou organizações.” Fazemos papel de estudante no ambiente acadêmico, papel de filho ou pai no ambiente familiar, de profissional no trabalho etc. Cada ambiente exigirá um “eu” específico e, com isso, também exigirá uma vestimenta, ou ainda, um figurino para cada papel social, como numa peça de teatro.
Somos capazes de identificar, simplesmente através da aparência, a que classe social ou grupo os indivíduos pertencem, e até mesmo, conseguimos fazer uma leitura (correta ou equivocada) de como tal pessoa é e como ela se comporta.
 Podemos reconhecer de um indivíduo, através da linguagem das roupas, os seus gostos musicais, os seus vínculos a certos movimentos sociais, as suas preferências por determinadas atividades, a sua profissão pertencente, seu estado de espírito etc.
A moda impregna-se de uma sustentação cultural e torna-se uma forma de representação. E esse fenômeno comunicacional estabelece a identidade social do indivíduo, atuando como uma forma de expressão que o identifica como integrante de uma determinada época, de certo grupo social ou de uma determinada categoria profissional (DRUMOND, 2009)
É primeiramente, através do modo do vestir, que um indivíduo procura mostrar a sociedade ou a seu grupo social, o seu jeito, a sua maneira, gostos, idéias, intenções ou até mesmo, usa desse artifício para ocultar suas intenções ou suas “imperfeições”.
A aparência de uma pessoa expressa à outra, com a qual deseja se comunicar, informações sobre sua identidade. Mas a imagem também pode funcionar como simulacro e mostrar algo que a pessoa não é, mas gostaria de se tornar para ser aceito em determinado grupo de referência. (STEFANI, 2005, p. 57)
Dentro dessa relação entre indivíduo e grupos sociais também há o paradoxo entre ser igual, mas ser diferente.  Por um lado, os indivíduos procuram se igualar ao restante do grupo para assim, poder se inserir nele. Por outro, ele procura se diferenciar do resto do grupo através de sua individualização, objetivando preservar a sua identidade ou apenas se destacar de algum modo desse grupo.
     
Moda de rua e passarela

Há uma dúvida quando se trata de onde surgem as influências da moda nos tempos atuais. Por um lado, os grupos de rua que criam sua própria moda, como forma de expressão, de diferenciação, de identidade, influenciam as criações de estilistas, para a moda de passarela. Por outro lado, a moda conceitual que sai das passarelas, dita as tendências que serão usadas em determinadas estações.
Dentro da sociedade existem diversos grupos sociais que usam dos artifícios da significação das roupas, para representar símbolos, expressar idéias e ideais, conceitos: usam a sua moda ou até sua antimoda pra comunicar seu modo de viver, de pensar, de ser.  Essa é a moda que sai da rua e influência a criação de estilistas que criarão conceitos e moldarão peças como símbolos desses movimentos. Por sua vez, as criações serão veiculadas através das passarelas, galerias, meios de comunicação como televisão, jornais, internet, e cairão no gosto dos adeptos a essa moda. “As imagens corpóreas apresentadas [...] constroem narrativas sobre o corpo para estabelecer significações que estejam de acordo com a cultura.” (BUEST, 2005). E assim, se dá o ciclo da moda.
Apesar do grande poder ditador da moda, existe uma grande variedade de opções de estilos e roupas que os indivíduos podem optar por escolher. O que a moda dita, já não é regra essencial nos dias atuais. As pessoas são livres para escolher o que julgam ser melhor. É claro, que são as tendências da moda que movimentam a indústria de confecção de tecidos, aviamentos, matéria-prima, comerciantes, criadores etc., e que dá essa característica de efemeridade, de mutação constante que a moda tem. O poder ditatorial da moda está nas grandes indústrias de manipulação e de produção massiva de produtos de moda, que acaba por disseminar rapidamente essa moda no mercado e ser consumida pela massa, antes que a obsolescência venha atingir esses produtos.

Conclusão

O sistema de moda é, na maioria das vezes, um assunto tratado como futilidade, como objeto de consumismo. Talvez pelos seus excessos, por ser um objeto de sedução ou ainda por sua efemeridade. Mas isso é só um pequeno problema dentro do sistema de moda, como há problemas em qualquer campo de estudo.
Como observado por Lipovetsky (2003), a moda está por toda parte, mas não é valorizada pelas cabeças pensantes. Muitas vezes ditada como assunto fútil, a moda está presente na rivalidade entre classes e nas lutas de concorrência de prestígio que opõem as diferentes camadas e parcelas do corpo social. Além de possuir um significado cultural e ter importante papel de suporte, a moda orienta o comportamento e está presente na interação do homem com o mundo que o cerca: é a forma como os indivíduos se comunicam, porém não equivale à uniformização de costumes, usos e gostos e a partir do contexto em que cada indivíduo se encontra, define uma interpretação. (LIPOVETSKY apud GAIA; FALEIROS; SOUSA)
Através da moda é possível saber de fatores históricos de determinadas épocas como, por exemplo, períodos de guerra; fazer distinções sociais fundamentais para compreender certas sociedades, como a diferença de tecidos, cores, modelagens usadas por indivíduos de classes sociais diferentes; a formação de identidades, como forma de inserção em grupos sociais ou ainda, a necessidade de individualização dentro de uma sociedade tão homogeneizada; e a moda como arte, como expressão, desde a antimoda de rua de grupos sociais à moda conceitual das passarelas. Enfim, são vários os potenciais comunicativos da moda, que pode refletir uma simples construção de identidade ou a busca pela individualização e inserção nos grupos sociais, até o contexto social, econômico e histórico da sociedade. Moda é comunicação. 


Fotos: google
ps.: quem quiser as referências, só pedir.

3 comentários:

André Barcelos disse...

Bianca, parabéns pelo post!

Vc está correta. Uma leitura atenta sobre a moda pode nos oferecer inúmeras informações. Sem contar que ela é um instrumento importantíssimo para "demarcar" determinados períodos, possibilitando o seu futuro estudo. Assim, pode-se dizer que o sociólogo atento usará das informações contidas nos trajes e correlatos para entender o momento pelo qual passamos, enquanto o historiador poderá se valer destas mesmas informações para delimitar períodos, segmentação esta importantíssima para o alcance dos resultados pretendidos e, por vezes, inesperado.

Enfim, parabéns pela leitura e pela qualidade do texto.

Damaris Costa disse...

Adorei o texto. Muito bem observado bibi ^^
Se todos ao invés de ver só a superfície do universo da moda concerteza a "futilidade" iria diminuir, só diminuir... né!? x))

Gostei, trabalhando desse jeito logo, logo, a gente vai encontrar a coluna "Poppi" nas revistas e jornais da cidade. xDD

Beiços ;8'ss

Camila Magalhães disse...

Nossa amei seu post. Na verdade, farei minha monografia baseado nesse eixo "moda e comunicação". Será que você tem autores e referências para me indicar? Já encontrei vários no seus trabalho. Parabéns está muito bem escrito. Bjao!